A piração da bicharada


Floresta, face desumana, representação da destruição. #PraCegoVer

Um texto para crianças de 5 a 105 anos! Um dos sete contos do nosso livro: Coleção Graziela.


Assista a animação experimental/amadora:


Havia uma floresta muito verde e bela, onde nasciam os frutos mais saborosos, as flores mais singelas. Lá, a brisa sempre fresca, brincava com as águas cristalinas do rio, e os animais corriam em paz pelos campos.


Tudo era harmonia e tranquilidade, até que um dia, o rei leão, resolveu ser astro de cinema:


- Estou cheio de ser o rei dessa floresta, aqui é tudo muito parado, não acontece nada de novo, eu quero ser famoso, sair nos jornais, ser capa de revista, falar na TV...


Assim, o nosso amigo, rei leão, fez as malas, colocou seus óculos escuros e partiu, deixando vago o trono real.


A floresta ficou em polvorosa, todos queriam a realeza, a bicharada entrou numa piração total: era rasteira, soco, pontapé, tinha bicho mentindo, tinha bicho roubando, dando ataque, passando mal... Nossa floresta, já não era a mesma, estavam todos contaminados pelo vírus da ambição, queriam o poder, custasse o que custasse; tudo estava mais triste e sem graça, ninguém mais brincava, nem corria pelos campos. Em todo canto, toda conversa era sobre o trono do rei, cada um se achava o melhor: o mais preparado, o mais inteligente, o mais isso, o mais aquilo...


O macaco foi o primeiro a candidatar-se:


- Eu sou o mais indicado para o trono, pois sou o mais esperto, o mais sabido, o mais inteligente. Eu sou o bicho! E para provar isso, tenho uma ideia que tornará nossa floresta mais rica, proponho a troca da nossa moeda; vamos deixar de lado a carambola, que já está podre e bichada, vamos usar uma moeda forte e sadia, que é a banana nanica.


A bicharada briga e protesta, quando percebe que o macaco está querendo tirar proveito da situação, já que ele era o dono de todas as bananeiras da floresta. A pior reação, veio do papagaio; indignado, o louro subiu, desceu, saracoteou, ciscou e soltou o verbo:


- Esse macaco é um estrupício! Se quer vender banana, vá para a feira! Candidato bom nessa bichocracia (democracia dos bichos) sou eu! Sendo rei, farei festa todo dia; vai ter lavagem, pagode e carnaval, vou criar o ano internacional da piada, liberar o palavrão e botar pra ferver.


As vaias fizeram eco na floresta, a bichocracia do papagaio não convenceu a bicharada.


O louro foi chamado de farrista, depravado e coisas piores, mas agora era o porco, que apresentava suas propostas:


- Esse louro sujo, só pensa em festa, piada e palavrão. O melhor candidato sou eu! Só eu conheço a pobreza, só eu tenho os pés (patas) na lama, sou o candidato que fala pelos fracos e fedidos, serei o rei dos disperfumados!


Só o gambá aplaudiu o discurso do porco, enquanto os outros bichos gritavam em coro:


- Au, au, au, O porco cheira mal! Au, au, au! O porco cheira mal!


No meio dessa gritaria, o tigre resolve falar:


- O rei serei eu, pois sou o mais forte e, além disso, sou parente do leão e o trono deve continuar na família, e vamos deixar dessa história de bichocracia e liberdade de direitos, o que vai valer é a lei da selva, e quem não gostar, eu prendo, arrebento, mato e como!


Todos se assustaram com as palavras do tigre, mas a tartaruga não se intimida e lança suas propostas:


- Para que tanto movimento? Agitação faz mal ao coração, só de pensar, já me dá palpitação. Quando eu for a rainha, as coisas irão mudar por aqui; trabalharemos um dia e folgaremos um mês, além disso, os feriados serão remanejados para que coincidam com o dia de trabalho, afinal, a vida foi feita para ser vivida e não para ser trabalhada.


A preguiça foi ao delírio com as propostas da tartaruga, mas os outros bichos, nem deram assunto. Foi quando a cobra, com um sorriso irônico, destilou o seu veneno:


- Diante de excelentes candidatos, com propostas tão maravilhosas, só me resta assumir o compromisso de colocar todas elas em prática, assim que eu subir ao trono. Mas como sou bichocrata, sugiro que façamos uma eleição, e eu farei o sacrifício de tomar conta da urna e contar os votos lá em casa.


O papagaio reagiu irado:


- Morde aqui meu dedo para ver se sai leite, sua magricela enrolada, você acha que nós somos otários é?


A tartaruga, quase cochilando diz:


- Calma papagaio, quem esquenta a cabeça é palito de fósforo, cabeça de gelo lourinho, relaxe como eu.


Nisso surge o burro, que por incrível que pareça, também queria ser rei:


- Colé de mermo pessoar? O causo é mi butar cumo rei, pru mó de eu cabá cum as inscola, instudá pra que? O negoço é cumê um capinzinho hoje otro aminhã, uma suneca vez inquano sempre; vida de burro é qui é boa! Óia a coruja! Instudô tanto qui maluqueceu. Dorme de dia e acorda de noite.


A fala do burro foi a gota d'água para dar início à maior briga já vista na floresta: Foi cabeçada, coice, patada, deram rasteira na cobra, o porco tomou banho, o tigre perdeu o bigode, a tartaruga foi feita de pedra, sendo jogada de um lado para o outro... O caos estava formado, quando a mãe natureza, resolveu intervir:


- Não briguem! Vocês são todos irmãos, são todos meus filhos muito queridos.


Mas o urubu, que estava de parte observando, não gostou:


- Deixa disso mãe, deixa eles se acabarem. Eles se matam, eu como eles e ainda reino sozinho na floresta.


A mãe natureza se entristece, a ambição havia despertado em seus filhos, sentimentos dos mais inferiores, e ela tenta mudá-los, tirá-los do precipício no qual se atiravam:


- Por que vocês não se unem? Cada um fica responsável por uma tarefa, todos se ajudam, e todos governam sem precisar de um rei.


Mas os bichos estavam cegos pelo poder:


- Nada disso! Eu sou o mais forte, e pela lei da selva, o mais forte é que manda. A senhora não se meta não, senão prendo, arrebento, mato e como. - Disse o tigre.


- Sai dessa tigre! Serei eu o rei dessa farra e vou botar pra derreter. - Foi o que disse o papagaio.


- Quem corre demais cansa. O negócio é governo relaxado, descansado como será o meu. - Afirmou a tartaruga.


- A gnorancia é qui astravanca o progréssio, livro é cumida de traça, seje burro cumo eu; abaixo as inscola, vorte nim eu! - urrou o burro.


- A coisa é muito simples, como eu disse; bichocracia já! Votem em mim e deixem que eu conte os votos. - Sibilou a cobra.


- O rei tem que ser alguém do povo, só eu, o Porco Porcolino Porcoso Porquento da Pocilga Porco, serei um bom rei.


- Eu sou o mais esperto, o mais sabido, o mais inteligente, o mais mais. Eu sou o bicho! Votem no macaquinho aqui!


- Briguem! Briguem! Se atraquem! Carniça é que eu gosto. - Escarneceu o urubu.


Decepcionada, a mãe natureza castiga os seus filhos; não por vingança, não por maldade, nem por querer. Mas seus filhos precisavam de uma lição, de umas palmadas da vida para aprenderem a viver juntos.


- Já que vocês não se unem, não buscam o entendimento; serão castigados: criarei um animal, com a avareza do macaco que sempre quer tudo e tudo para si; esse animal terá a violência do tigre, que usa a força do físico para esconder a fraqueza do sentimento; terá a falação do papagaio e a ignorância do burro, que vive olhando para o chão sem ver o infinito à sua frente; terá ainda a malícia da cobra, que busca abusar da confiança dos crédulos e a desonestidade do porco que só lembra dos mais fracos quando quer conquistar seus objetivos; por fim, esse animal terá o oportunismo do urubu e todos os defeitos que vocês não procuraram corrigir, vocês perderão a razão e o sentimento, só terão instintos e serão dominados por esse animal, até que ele acabe com todos esses defeitos e todos possam viver juntos e em paz.


- Que ordinário de bicho é esse? Gritou o papagaio.


- É o homem! - disse a mãe natureza.



Postado aqui em julho de 2009.


Antonio Pereira Apon.

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Antonio Pereira Apon

Autor do poema: A pedra. O distraído nela tropeçou... Procurando escrever em prosa e verso com a arte da vida.

4 Comentários

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  1. Bom domingo meu querido amigo!
    texto muito atual para nossos dias,e agora que estamos na semana do dia das crianças...fantástico...
    Estou agui para te convidar a passar no meu blog que hj tem assunto de sobra,kkkkk,só para conhecer minha história de vida que se encontra no ping pong da Emiliana Vaz:
    http://historiasdeemilia.blogspot.com

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  2. Olá Antonio.
    Parabéns por excelente conto!
    Todos os animais se rebelaram, pelo trono, pelo poder...
    Se o ser humano realmente pudesse mostrar bons exemplos
    o mundo seria um paraíso!
    Grande abraço!

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  3. Olá Alba!

    As venturas e desventuras desse nosso mundo refletem as “paisagens” da alma humana. O ser humano precisa acordar o seu melhor, senão...

    Um abração querida amiga. Tenha uma boa semana.

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  4. Oi, Tonico!

    Levei tempo lendo teu conto, mas gostei imenso.
    Adorei a "pronúncia do burro".
    É história para criança, mas de onde se tira uma conclusão. Só o Homem consegue ser mais egoísta que aqueles animais. Mãe Natureza é bem inteligente.

    Bisous.

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