... que importa? Foi "apenas" mais um. Mais um dígito na estatística, um número na farsa da segurança pública. Virou atração de programa sensacionalista. Desses que...
Antonio Pereira Apon.
Um estampido. Um sobressalto. Passos apressados distanciam-se fugitivos. Um burburinho se avoluma. Uma multidão se acerca entre conjecturas piedosas e elucubrações levianas, curiosidade fútil e câmeras macabras, risos, lamentos...
Um corpo esvai-se. O sangue desenha no asfalto a tragédia de uma vida, estupidamente furtada. Latrocínio. Morte para levar cinco reais e um celular. Celular tão fácil de vender, nada difícil habilitar. Vende-se a qualquer um por qualquer preço, qualquer receptador compra em qualquer esquina, um chip de qualquer operadora e o ativa sem qualquer dificuldade.
Morreu um pobre pai de família, um homem de bem, um mal assalariado que "tirou" no cartão do primo em doze vezes (ditas sem juros), o telefone que lhe custaria a vida. Mas que importa? Foi "apenas" mais um. Mais um dígito na estatística, um número na farsa da segurança pública. Virou atração de programa sensacionalista. Desses que embrulham o estômago na hora do almoço, esses que misturam desgraça com musiqueta rasteira e alcunham isso de jornalismo. O mórbido vale-tudo para saciar o cio da audiência desinteligente.
O ladrão? Anda por aí à espreita, livre para matar, não "apenas" mais um.
Deus que nos proteja. A autoridade (in)competente anda de helicóptero e carro blindado.