Urubus, a águia e a educação



... Sem educação, a cidadania demora estagnada sob o jugo da ignorância... ...a devida ração de mentiras, “pão e circo”...


Antonio Pereira Apon.


Águias no ar.


Um grupo de urubus capturou um filhote de águia e o levou para uma pequena ilha afastada da costa. A pequenina ave, cresceu assistindo os urubuzinhos “mais fortes, belos e capazes de voar”, se aventurarem nos ares. Voarem para além de onde a visão podia alcançar. Lá onde “só os privilegiados pela natureza. Podiam afrontar terríveis perigos, tenebrosas ameaças, que apenas eles, os superpoderosos urubus podiam vencer”. Ela, a aguiazinha tinha que ser obediente e agradecida pela “bondade e proteção” dos seus “generosos benfeitores”.


Durante o sono, seus “tutores” cuidavam de cortar suas penas de voo sempre que essas despontavam. Assim, a “tutelada” ave nem sonhava descobrir sua vocação natural aos grandes voos. Podada, adestrada para a subserviência, sufocou seu espírito altivo de poderosa águia. Resignada com a ração que lhe permitia o sobreviver, divertia-se, voejava “livre” no círculo estreito daquele ilhéu.


Um dia, todos os urubus desapareceram da ilhota. Só e assustada, nossa amiga águia, logo aprendeu que não precisava de ninguém para garantir sua alimentação. Percebeu numa criatura altaneira e majestosa, o motivo da debandada de seus algozes. Uma ave magnífica de um voo imponente e exuberante, havia feito seu ninho ali. Daquele ser, emanava uma força, um poder assustador que lhe fascinava e atiçava a curiosidade.


O tempo passou e logo os filhotes da formosa ave já se aventuravam nas primeiras lições de voo. Observando a tudo escondida. Estudando, praticando, vivendo aquelas aulas. Nossa amiga não tardou em achar na integridade de suas asas a possibilidade de voar alto. Se deu conta de que estava diante de águias como ela. Encontrou-se, se descobriu, entendeu o que tinha sido feito de sua vida, da sua ignorância...


Sem educação, a cidadania demora estagnada sob o jugo da ignorância. Hoje, como ontem, as elites políticas sonegam educação ao povo para mantê-lo adestrado pela deseducação, subjugado por “bolsa isso, pacote aquilo” e outros artifícios de velhos e novos “coronéis”. Para os quais, o conhecimento é uma pedra no sapato, uma ameaça a esse sistema perverso que perpetua a injustiça e a segregação. Para os ricos, tudo. Para a plebe, a devida ração de mentiras, “pão e circo”.


Urubus só dominam águias que não sabem que são águias. Não permita que cortem suas asas. Eduque-se! Liberte-se!



Postado aqui em 31 de outubro de 2012.

Antonio Pereira Apon

Autor do poema: A pedra. O distraído nela tropeçou... Procurando escrever em prosa e verso com a arte da vida.

8 Comentários

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  1. Olá estimado Antônio,

    Mais um refelexivo e inteligente texto seu. Adorei lê-lo.
    Nele faz referência a animais, para entendermos melhor, a realidade dos humanos.

    Quanto "urubu" há por aí!

    Seu texto me fez, também lembrar, a Sociedade Romana e a situação da França, antes da Revolução, em 1789, quando Maria Antonieta, disse aquela célebre frase ao povo.

    É preciso ter "engenho e arte" para saber pôr os "urubus" no seu devido lugar, isto é, ao lado dos outros. Afinal, SOMOS TODOS IGUAIS E FILHOS DE DEUS.

    Nós todos temos cérebro e "asas" para podermos escolher nossos caminhos e não nos deixarmos aniquilar.

    Resto de boa semana e acho que bom feriado. Amanhã é feriado, aqui.

    Abraço, com carinho, da Luz.

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    1. Olá Luz.

      Cá tem urubu demais se fartando da passividade bovina de um povo tão bem adestrado, que se compraz em ser fantoche do tal sistema.

      Por aqui o feriado é na sexta, dia de finados.

      Um abração.

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  2. Antonio, muito oportuno seu post, mas amigo, isso é antigo, mesmo porque o povo se acomoda, não tem jeito, muitos votam de qualquer jeito, acho até que nunca tem mesmo bons candidatos,todos fazem a mesma coisa, cobram e criam mais impostos, nós, pagamos, é nós pagamos!!!
    Os fortes sempre dominam os fracos isso é professo, nem adianta ainda vai demorar para mudar,no meu tempo escolar isso seria encarado como subversão, tanto que os professores tinham medo, muito medo,eu enfrentei passeatas juntamente com os estudantes, mas desisti, tive medo, todos tinham!
    Uma andorinha só nunca vai "fazer verão", que pena né?
    Abraços meu amigo!

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    1. Quanto mais acomodado e omisso o povo. Mais arbitrários, cínicos e destemidos os “poderosos” e aventureiros da politicagem. Que apostam na ignorância da população para subjuga-la sem maiores dificuldades.

      Como no trecho do poema de Eduardo Alves da Costa (equivocadamente atribuído ao russo Vladimir Maiakóvski):

      Na primeira noite eles se aproximam
      e roubam uma flor
      do nosso jardim.
      E não dizemos nada.
      Na segunda noite, já não se escondem;
      pisam as flores,
      matam nosso cão,
      e não dizemos nada.
      Até que um dia,
      o mais frágil deles
      entra sozinho em nossa casa,
      rouba-nos a luz, e,
      conhecendo nosso medo,
      arranca-nos a voz da garganta.
      E já não podemos dizer nada.
      [...]"

      Ou ainda como nesse escrito atribuído ao pastor luterano Martin Niemöller:

      “Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar”.

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  3. Muita submissão. Muita hipocrisia de "tudo pelo social"... E, absurdamente deixam-se dominar... marionetes mais uma vez nesse mercado político em que vivemos. Mas, ah! As bolsas estão tirando o povo da miséria... grande piada! Só aceitam mesmo aqueles que nunca leram nada, sequer em um jornal que lhe embrulharam alguma compra... Hoje, o maior embrulhado são eles! Desestimulante para nós, educadores!
    Parabéns, Antonio, por mais esta reflexão que aplaudo em pé!
    Abraço, Célia.

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    1. O conto: “A roupa nova do rei”. Do dinamarquês Hans Christian Andersen, publicado em 1837. É a mais perfeita descrição do Brasil de hoje. Travestido de mentiras por espertalhões que se valem da deseducação para fingir invisível a realidade:

      “Um trapaceiro, se fazendo passar por um alfaiate de terras distantes, diz a um rei que poderia fazer uma roupa muito bonita e cara, mas que apenas as pessoas mais inteligentes e astutas poderiam vê-la. O rei, muito vaidoso, gostou da proposta e pediu-lhe que fizesse uma roupa dessas para ele.
      O bandido recebeu vários baús cheios de riquezas, rolos de linha de ouro, seda e outros materiais raros e exóticos, exigidos por ele para a confecção das roupas. Ele guardou todos os tesouros e ficou em seu tear, fingindo tecer fios invisíveis, que todas as pessoas alegavam ver, para não parecerem estúpida.
      Até que um dia o rei se cansou de esperar e ele e seus ministros quiseram ver o trabalho. Quando o falso tecelão mostrou a mesa de trabalho vazia, o rei exclamou: “Que lindas vestes! Você fez um trabalho magnífico!”, embora não visse nada além de uma simples mesa, pois dizer que nada via seria admitir na frente de seus súditos que não tinha inteligência e a capacidade necessária para ser rei.
      Os nobres ao redor soltaram falsos suspiros de admiração pelo trabalho do bandido e nenhum deles quis que achassem que era incompetente ou incapaz. O bandido garantiu que as roupas logo estariam completas e o rei resolveu marcar uma grande parada na cidade para que ele exibisse as vestes especiais. A única pessoa a desmascarar a farsa foi uma criança: “O rei está nu!”. O grito é absorvido por todos, o rei se encolhe, suspeitando que a afirmação é verdadeira, mas mantém-se orgulhosamente e continua o desfile”.

      O Brasil está nu!

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  4. Bom Dia, Antonio!

    Pois é, tão acostumados estamos em ter nossas "preciosas asas cortadas", que já estou achando demorar a percepção da águia que habita em cada um de nós. Mas antes tarde do que nunca!
    Há, meu Brasil brasileiro...
    Seus textos sempre muito oportunos!
    Tenha um lindo dia!
    Beijos!

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    1. Teve: Bolsa família, musiqueta ordinária, cerveja, carnaval, futebol... Pode cortar as asas, ou o que queiram, o povo vai dizer amém até ao capeta. Essa é a gente QUE TODO POLITIQUEIRO SONHA manipular.

      Um abração Jossara e uma boa semana.

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