X9. Um caso de polícia



Existem crimes e “crimes”. A realidade não aceita versões, apenas a verdade. A pressa e a imaginação...


Antonio Pereira Apon.


Portrait de l’artiste sous les traits dum moqueur (Retrato do artista em pose debochada), pintura de Ducreux.

No andar de cima, barulho de correria, cair de objetos e arrastar de móveis. Incomodado, Osmundo resolveu subir para reclamar. Aproximando-se da porta do zoadento vizinho, ele escutou lá de dentro as imprecações da Empregada (Secretária do lar; para ser “politicamente correto”):


- Agora é você e eu! Eu não disse que te pegava seu sacaninha?! Tome! Tome seu filho da...


Uma serie de pancadas se fez ouvir, uma pequena correria, um tombo, um estilhaçar de vidro, um silêncio angustiante e o desespero da Doméstica:


- Meu Deus! O que foi que eu fiz?! O patrão vai me matar! ...


Menino sambando.


Um filete vermelho, sinuosa e lentamente começou a escorrer por baixo da porta, riscando o corredor num tortuoso traçado rubro. Aterrado, Osmundo conseguindo vencer a paralisia inicial, correu para seu apartamento e ligou para seu amigo Paulo Meganha, um investigador policial:


Olhar assustado.


- Paulão! Acuda-me! A Cidinha Periguete matou o filho do vizinho aqui de cima! Subi para reclamar da barulheira que vinha de lá, chegando na porta, ouvi a infeliz ameaçando o menino, o coitadinho estava tão assustado que não conseguia falar nada. Ela começou o espancamento, ele conseguiu correr e ela foi atrás, escutei o pobrezinho se bater com a mesa, cair no chão e o tampo de vidro se quebrar sobre ele. A descarada gritou apavorada com o que fez e o sangue do garoto começou a escorrer corredor afora...


Vinte minutos depois, no corredor já limpo. O Policial escutou Cidinha falar ao celular:


- ...Já limpei tudo, me socorra! O patrão não vai aceitar essa história de acidente, ele vai comer meu fígado...


Meganha bateu violentamente na porta:


- Polícia! Abra logo! ...


Aturdida, a moça abriu a porta e foi logo recebendo o cano da pistola no meio do rosto. Antes que pudesse esboçar qualquer reação, teve as mãos algemadas e num brusco empurrão, viu-se arremessada sobre o sofá:


- Cadê o corpo do menino?! O que você fez com o corpo do garoto?! ...


Nesse momento, o dono do imóvel chegou, carregando seu filho adormecido no ombro:


- O que é que está acontecendo aqui?!


- Recebi um comunicado de assassinato e aqui chegando, escutei uma conversa suspeita dessa meliante...


Entre soluços e extremamente assustada:


- Seu Augusto. Apareceu um calunga na cozinha, eu comecei a perseguir ele até aqui na sala. Consegui encurralar ele ali no canto e comecei a bater com a vassoura. O pestinha escapuliu para perto da estante, quando me desequilibrei e derrubei aquela garrafa de vinho caro, da safra de sei lá quando, que o senhor ganhou na rifa. O vinho molhou tudo e até escorreu lá para fora. Limpei tudo e estava ligando para o meu namorado, o Ricardão. Ele trabalha num mercado aqui perto, eu estava pedindo ajuda para ele ver se conseguia arranjar um vinho igual para eu pôr no lugar... Mas aí chegou a polícia...


Denunciado por abuso de autoridade, Paulão andou às voltas com a corregedoria e anda procurando o desastrado X9 que saiu de fininho e ninguém mais soube o paradeiro.



Postado aqui em 07 de junho de 2013.


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Antonio Pereira Apon

Autor do poema: A pedra. O distraído nela tropeçou... Procurando escrever em prosa e verso com a arte da vida.

6 Comentários

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  1. Aí está como o ditado de "nem tudo o que parece é" se aplica tão bem neste caso!!!!
    Quantas vezes nos deixamos enganar pelas aparências e depois pagamos ( ou não ) pelas consequências...
    abraço
    anacosta

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    1. Isso mesmo. A precipitação, o "achar", deduzir, julgar... Podem ser desastrosos.

      Um abração, Ana. Bom fim de semana.

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  2. Bem... primeiro li achando que mais uma cena da vida cotidiana que nossos programas sensacionalistas policiais enfocam... mas ao final... ufa... sorri e valha-me o vinho... dos males o menor... E a vizinhança abelhuda (quem não tem...) que verifique bem antes de qualquer atitude. Bom senso ainda é a melhor das atitudes.
    Abraço, Célia.

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    Respostas
    1. Bom senso e calma nunca são demais e a afobação, jamais foi boa conselheira.

      Um abração e bom fds.

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  3. Oi Antonio,

    Que legal!
    Suspense, imaginação e bom humor!
    Admiro sua criatividade e leveza!
    Tenha um lindo fim de semana!
    Beijos!

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    Respostas
    1. Cabe-nos através da arte de escrever, falar de forma incomum de temas comuns.

      Obrigado, Jossara. Tenha um bom fds.

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