Tudo passa. Vai passar!

... Passa o que é breve, o que se atreve em retardar; passa ligeirinho, feito passarinho, passará! Passa a dor, a agrura, vai-se a desventura, esvai-se o que perdura em teu chorar...

Antonio Pereira Apon.

Segundo, minuto, hora,
não tarda o agora;
não fica, não demora,
tudo que é do tempo traz a sina de passar.
Tal qual passa a noite,
passa a tempestade, o seu açoite;
não se arvora a nuvem em não passar.
Alvorado dia,
passa a ser poesia,
verso, passa a vida a declamar.
Passa o que é breve,
o que se atreve em retardar;
passa ligeirinho,
feito passarinho, passará!
Passa a dor, a agrura,
vai-se a desventura,
esvai-se o que perdura em teu chorar.
Breve eternidade,
eterna brevidade;
mesmo o que “não passa”. Passará.
Quem desdiz o dito popular?
Não há bem  que sempre dura,
nem tem mal pra nunca se acabar.
Passa o rico e o pobre,
o ouro, a prata, o cobre;
mesmo o que sobre. Passará.
Passa o lucro, o fruto,
o furto;
o usufruto passará.
Passa a moléstia,
o olhar, a réstia;
o espreitar que resta, passará.
Passa a quarentena,
a agonia, um tal dilema,
o isolamento, o problema;
como tudo, passará!
Passa o desgovernante,
o reles tratante;
quem insiste ignorante, passará.
Não tarda o agora;
não fica, não demora,
tudo que é do tempo traz a sina de passar.
Passará!