A fila há de andar


Ilustração oficial do blog - Uma rosa vermelha na diagonal, sobre um fractal do por do sol, com o nome Apon em relevo, na parte inferior da imagem. #PraCegoVer

Na fila da vida,

uma gente indigente,

errante penitente;

ruminando azar e sorte,

aguardando a morte chegar.

Numa “Biafra nordestina”,

ressequidos destinos vão carpindo sua sina;

numa desgraçada cracolândia,

no Haiti de cada gueto...

Aonde a ficção oficial não vai além da propaganda.

No planalto central:

Um faz de conta,

um disse que disse que nada diz.

Apócrifa devoção,

dos que só rendem graças a “Nossa Senhora da eleição”.

Onde só a desassistência assiste:

Já não sorri a criança,

não se engana a maturidade.

Quem provou indigesta desilusão;

já não compra a fé posta a preço,

nem aposta no mercar a salvação.

Anônimos figurantes,

mal representados coadjuvantes;

desejam a si próprios representantes.

Nesse drama dessa lida,

nessa fila dessa vida,

triste procissão,

amargo féretro da ilusão.

Despida a falsidade,

desnudada a dissimulação;...

não haverá bolsa que compre a realidade,

que impeça essa fila de andar,

resgatar a amarfanhada esperança,

reacender de um povo o sonhar.


Antonio Pereira Apon.

Siga-nos

Dê uma espiadinha em nossas postagens mais recentes:


Antonio Pereira Apon

Autor do poema: A pedra. O distraído nela tropeçou... Procurando escrever em prosa e verso com a arte da vida.

10 Comentários

Obrigado por sua visita. Agora que terminou a leitura, que tal deixar seu comentário na caixa de comentários abaixo? Sua interação é muito importante. Obrigado.

  1. Querido amigo, Poeta!
    Esse "disse que disse, que nada diz" anda a nos cansar, faz tempo!
    Quem dera chegar o tempo de se fazer algo!
    Quem dera eu estar por aí a ver esse tempo chegar!
    Quem dera!
    Tenha um lindo fim de semana!
    Beijos!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Como canta Caetano em "podres poderes":

      "Enquanto os homens exercem
      Seus podres poderes
      Morrer e matar de fome
      De raiva e de sede
      São tantas vezes
      Gestos naturais..."

      Um abração.

      Excluir
  2. As desassistências são tantas, Antonio; os desafetos triplicam; as amarguras calam tão fundo que nossa gente humilde (conforme a canção escolhida) vive sufocada mesmo... Que vai em frente... Sem nem ter com quem contar...
    Excelente e propícia abordagem a sua!
    Abraço,
    Célia.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Os Paralamas do Sucesso bem retratam isso em "Alagados". Uma realidade que se aplica a todo Brasil:

      "Todo dia o sol da manhã
      Vem e lhes desafia
      Traz do sonho pro mundo
      Quem já não o queria
      Palafitas, trapiches, farrapos
      Filhos da mesma agonia
      E a cidade que tem braços abertos
      Num cartão postal
      Com os punhos fechados na vida real
      Lhe nega oportunidades
      Mostra a face dura do mal
      Alagados, Trenchtown, Favela da Maré
      A esperança não vem do mar
      Nem das antenas de TV
      A arte de viver da fé
      Só não se sabe fé em quê"...

      Obrigado, Célia. Um abração.

      Excluir
  3. Meu amigo poeta, é preciso mesmo que se sinta que o quadro não muda, que em épocas contemporâneas ainda veremos tantos e tantos descalabros nesse país, é preciso crer que "a fila há de andar", pois a esperança não morre, é ela que nos move, sempre, foi a única coisa que restou "na caixa de pandora"!
    Abraços e tenhas um lindo fim de semana!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A desigualdade é antiga e os políticos a vão empurrando com a barriga. Para os que não se fazem deliberadamente indiferentes a tudo isso, a tocante "Gente humilde". Letra composta em 1969, por Vinícius de Moraes e Chico Buarque de Holanda, música do grande violonista Garoto (Aníbal Augusto Sardinha). Um belo choro de 1952.

      "Tem certos dias
      Em que eu penso em minha gente
      E sinto assim
      Todo o meu peito se apertar
      Porque parece
      Que acontece de repente
      Feito um desejo de eu viver
      Sem me notar
      Igual a como
      Quando eu passo no subúrbio
      Eu muito bem
      Vindo de trem de algum lugar
      E aí me dá
      Como uma inveja dessa gente
      Que vai em frente
      Sem nem ter com quem contar

      São casas simples
      Com cadeiras na calçada
      E na fachada
      Escrito em cima que é um lar
      Pela varanda
      Flores tristes e baldias
      Como a alegria
      Que não tem onde encostar
      E aí me dá uma tristeza
      No meu peito
      Feito um despeito
      De eu não ter como lutar
      E eu que não creio
      Peço a Deus por minha gente
      É gente humilde
      Que vontade de chorar".

      Obrigado, Ivone. Um abração.

      Excluir
  4. Nada mais triste do que observar os mendigos na rua; os mais velhos com o chapéu na mão e, os mais jovens de garrafas e latas cheias de desesperança. Um abraço, Yayá.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. "garrafas e latas cheias de desesperança". Você sintetizou tudo nessa metáfora. Enquanto isso. Os "donos do poder" se fartam com o que falta a essa gente.

      Obrigado. Um abração.

      Excluir
  5. Oi, Antônio!

    Texto poético, como sempre inteligente e de um realismo que até dói.

    Isso se passa por todo o mundo, mas se Deus quiser, as coisas mudarão, porque Deus é JUSTO.

    E o que ELE prometeu, se irá cumprir.

    Um abração da Luz.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Enquanto a providência divina não resgata a cidadania de nossa gente, as filas desandam...

      Obrigado, Luz. Um abração.

      Excluir
Postagem Anterior Próxima Postagem

Pular para comentários.


Clique na imagem acima para ler uma postagem sorteada especialmente para você.


Clique para ler: A pedra.            Poema de Antonio Pereira Apon.

Clique na imagem do escultor para ler: A pedra. Nosso poema que tem sido plagiado.




Fale conosco.


Assista nossos vídeos, inscreva-se no Apon na arte do viver.



Se ainda não se inscreveu, inscreva-se em nosso canal, clique no sininho para escolher receber nossas notificações, ser avisado(a) dos vídeos novos. E não esqueça de dar seus likes. Conto com você! Obrigado.