Felicidade. Aprendendo com o ruibarbo do deserto


Ruibarbo do deserto.

Muita gente, condiciona sua felicidade a fatores externos, a uma complexa coincidência de acontecimentos que desmente e desafia a simplicidade da vida: Riqueza, fama, poder, sorte, realização amorosa... Condicionais, que mesmo quando alcançadas, não redundam necessariamente na felicidade almejada.


Foi o que aconteceu com aquele moço pobre e amorosamente desiludido, que vagava errante pelas ruas. Sua amada fugira com um “filhinho de papai” e ainda que não se desse conta, despedaçara aquele coração transbordante de um amor que ela nem desconfiava. Um dia, quando o rapaz se embriagava em pensamentos dos mais infelizes, uma aparição o arrebatou daquele torpor:


- O que é isso meu jovem? Por que tanta tristeza?


- Já viu pobre ter vez, ter alegria? Quem tem dinheiro pode tudo! Rico compra ou manda buscar: Amor, sucesso, felicidade... Gente como eu, fica chupando dedo.


- Então, você acha que ficar rico te faria feliz. Não acredito. Mas quem sabe, seu desejo não se realiza...


No dia seguinte, aquele desiludido ser, seguia sua rotina de quase zumbi. Quando reparou que um idoso atravessava a rua desatento, na frente de um ônibus em altíssima velocidade. Num reflexo, puxou o senhor e os dois caíram sobre o passeio ainda sentindo a poeira do deslocamento do veículo quase responsável por uma tragédia. Refeitos do susto, o ancião agradeceu, tirando um bilhete de loteria do bolso:


- Tome meu rapaz, é tudo que tenho...


- Não, não precisa tio! ...


_ Você salvou minha vida. Se esse bilhete for premiado, ficarei muito contente. Não tenho o costume de jogar. Mas hoje senti uma enorme vontade de fazer essa aposta e agora sinto que devo te dar isso. É seu! Tenha uma boa sorte! ...


Único ganhador daquele prêmio acumulado da loteria, agora era um milionário. O dinheiro lhe trouxe prestígio, prosperidade e todas as facilidades do ter. Até seu grande amor, ele reencontrou anos depois e finalmente, realizou seus sonhos. Mas, faltava algo. A tal felicidade.


Um dia, absorto em seus pensamentos, foi revisitado por aquele espírito que lhe aparecera anos antes:


- Ainda acha que o dinheiro é essencial para a sua felicidade?


- Onde posso encontrar a felicidade? Tenho tudo o que sempre quis. Até mais do que eu podia imaginar! Mas não sou feliz...


- A felicidade não é exterior, não pode estar condicionada a coisas, acontecimentos, pessoas... Tudo é mutável, passageiro como a própria vida terrena. Felicidade tem que estar enraizada na alma, precisa ter um tanto de autossuficiência para enfrentar as ausências, as faltas e todo tipo de adversidade. Precisamos aprender a ser como o ruibarbo do deserto.


- O que é isso? ...


Os dois foram como que “tele transportados” para uma paisagem deserta. E diante daquela planta exótica, seguiu o esclarecimento:


- Popularmente conhecida como ruibarbo do deserto, da família Rheum palaestinum, essa planta tão comum em desertos como os de Israel e da Jordânia, tem a peculiar capacidade de captar água da chuva com as folhas, conduzindo-a para as raízes. Conseguindo assim, uma absorção cerca de 10 vezes maior que outras plantas de áreas desérticas. Ela irriga a si mesma. Enquanto outras plantas de tais regiões, comumente apresentam folhas pequenas ou reduzidas a espinhos, para evitar a perda de água pela evaporação. As folhas do ruibarbo chegam facilmente a um metro, para melhor recolher o líquido escasso. Uma película de cera impermeável, garante que a água escorra até a raiz principal, conseguindo uma captação dezenas de vezes mais eficiente que outras plantas, limitadas à chuva caída no solo ao seu redor.


Aquele já maduro homem, seguiu feliz em meio a perdas, derrotas, dores, a secura de tantos momentos dessa nossa aventura do viver. Perdeu dinheiro, adoeceu, sofreu com a morte de sua amada... Mas nunca mais perdeu a felicidade interior que lhe permitiu seguir em frente. Independente de quem, do que...


Não sejamos tão suscetíveis à aridez das vicissitudes, preparemo-nos para captar todas as gotas que possam irrigar nossa real felicidade, refrigerando o ânimo para vencermos inóspitos desertos. Aprendamos a lição do ruibarbo!



Postado aqui em 11 de abril de 2015.


Antonio Pereira Apon.

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Antonio Pereira Apon

Autor do poema: A pedra. O distraído nela tropeçou... Procurando escrever em prosa e verso com a arte da vida.

3 Comentários

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  1. Que excelente reflexão, Antonio! Meditei sobre minha vida e, pude concluir ser meio "ruibarbo"... Felizes somos quando atingimos tal estágio. Irrigamos a quem necessita com nossos exemplos, praticando aquilo que realmente acreditamos. Bens supérfluos não trazem felicidade alguma. A riqueza do nosso interior, que não se adquire em nenhuma loteria, é o que nos alimenta para uma vida digna!
    Abraço.

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    Respostas
    1. O vazio existencial não se consegue preencher com o artifício das coisas e sensações terrenas. Aprendizado, humildade e reforma interior, são caminhos. Aproveitar todas as gotas disponíveis, não esperar pela sorte ou outras conspirações do destino. Ser ruibarbo.

      Um abração e uma boa semana.

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  2. Oi Antonio!
    Amei a lição do ruibarbo. As vezes penso que vivemos sem "sentir", pois se tomássemos consciência do sentido da vida, o mundo seria diferente!
    Não sei ao certo, na verdade sei muito pouco, porém com o passar do tempo percebo que preciso muito pouco para estar bem! E bem estar para mim, é felicidade!
    Beijo carinhoso, ótima semana!

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