Kairós: Cadê o agora que estava aqui? Cronos comeu?!


Kairós - Francesco de Rossi.

Todo tempo é tempo de pensar o tempo e no tempo, mas a proximidade da chegada de um ano novo, parece acordar reflexões especiais:


Existe um tempo cronológico, linear, irrefreável, inexorável... No qual sobrevivemos. Mas, há um tempo ideal, o instante de viver e vivenciar, momento oportuno, o agora, o hoje; o presente onde tudo realmente acontece. Não adianta tentar reter o passado ou antecipar o futuro. A vida é como um cesto onde só cabe o instante presente. No fluxo incoercível do rio do tempo, não dá para reter as águas passadas nem adivinhar as do porvir...


Cronos e kairós. Um, dita o tempo cronológico, sequencial; medido, agendado, quantificado. Enquanto o outro, presta-se, refere-se ao qualitativo, à ocasião oportuna, o acontecer especial.


Cronos fez-se senhor do céu destronando Urano, seu pai. Mas, temendo a profecia de que perderia o poder para um de seus filhos, passou a devorá-los , todos os viventes e até o destino, para que ninguém o sucedesse. Contudo, para não perder seu último filho, Réia engana Cronos dando-lhe uma pedra enrolada num cobertor, o que ele engole pensando se tratar do menino. Então, ela esconde Zeus numa caverna no Monte Ida em Creta sob os cuidados de Gaia. Ele cresceu amamentado pela cabra Amaltéia. Adulto, Zeus destrona seu pai, obrigando-o a vomitar todos os filhos engolidos, fazendo renascerem seus irmãos e tomando o poder, cria uma nova hierarquia de deuses. Gratos a Amaltéia, eles a transformam na constelação de Capricórnio. O mito versa sobre o envelhecer, o suceder das gerações e a inútil luta contra as mudanças, personificando o a dualidade do tempo, que devora o que cria ou permite criar.


Filho de Zeus e Tyche , deusa da prosperidade, Kairós era a antítese do seu avô, um jovem despreocupado com o tempo cronológico. Sempre nu, com asas nos ombros e pés. Carregava numa das mãos uma balança simbolizando o equilíbrio e a justiça. Apesar de veloz, não ultrapassava os limites. Ostentava um topete, mecha de cabelo caindo sobre a testa e a nuca nua. Assim, só podia ser capturado pelos cabelos em sua passagem, depois era impossível, não tinha nada na nuca para se puxar.


Kairós personifica a face qualitativa do tempo, atemporal eternidade, contrapondo a Cronos, quantitativo tempo, cômputo dos homens. Kairós é a dádiva do momento oportuno: Oportunidade! Tempo em toda sua potencialidade, possibilidade. Revela fugacidade das chances que surgem e precisam ser devidamente aproveitadas. Ele não reflete o passado nem pressente o futuro; simboliza o tempo de fato, o presente. o instante em que tudo acontece; sem o sobrepeso do que passou e da preocupação pelo que passará(?). Kairós marca sobretudo a eternidade breve e a breve eternidade dos momentos que se fazem inesquecíveis na memória imorredoura de nossas mentes e corações.


A Persistência da Memória - Salvador Dalí.



Postado aqui em 14 de dezembro de 2016.


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Antonio Pereira Apon.

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Autor do poema: A pedra. O distraído nela tropeçou... Procurando escrever em prosa e verso com a arte da vida.

14 Comentários

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  1. Olá, António!

    Esse teu texto me encantou, embora já conhecesse a história de Cronos e estou aqui pensando por que não engoliu ele a velhice, com a condição de a não vomitar mais (risos)?

    Adoro Mitologia, embora não passe de mito, mas ela traduz, lindamente, as atitudes humanas.

    Sou toda Kairós, embora tenha cabelo na nuca e use roupa, mas se passar à condição de Deusa, eu abdico de tudo isso (rs).

    O último parágrafo de teu escrito me deixou com um brilhozinho nos olhos, com vontade de quero mais, pke a eternidade breve e a breve eternidade dos momentos inesquecíveis é algo inominável e indescritível.

    Abracinho, menino!

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    1. Falando do amor, Vinícius de Moraes disse: "Que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure”, isso vale para a eternidade breve e a breve eternidade dos momentos inesquecíveis… Isso é o que realmente vale, soma e fica das horas e dias ditados pelo relógio, agendas e calendários. A mitologia é um manancial de ensinos antropológicos, sociológicos e políticos. Propõe profundas reflexões. Parafraseando o evangelho, podemos dizer: Fora de Kairós não há salvação. Ele representa o tempo real em que tudo verdadeiramente acontece. Onde, por exemplo: Alguém quer ser deusa ou o perfume do menor frasco… Rs rs rs…

      Abraçãozinho e bom fim de semana. Estou esperando sua postagem lá no seu blog.

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    2. "Falando de amor...", olá, querido amigo!

      Estou extremamente grata à tua pessoa, ao comentário que deixaste em meu blog, enfim, à nossa boa amizade, sentimento, que nos liga há uns aninhos, e por mais que soprem ventos, correntes marítimas desfavoráveis, "Gigantes Adamastores", venham eles donde vierem (hoje, estou muito histórica -rs), nós estamos aqui, firmes, determinados, não influenciados, sinceros e encantados.

      Tal como tu e Kairós, EU SOU TODA PRESENTE, porque o passado fica para a História e o futuro, o porvir, a Deus pertence, portanto, não percamos nossas energias, pensando no que já se foi ou no que há de vir. VIVAMOS E SABOREEMOS AGORA OS BONS MOMENTOS!

      "Não" entendi essa de Deusa ou de perfume do menor frasco (risos), mas tu, depois, me explicas, como se eu fosse loura (as minhas desculpas às louras genuínas).

      Ainda nos "falamos" antes do natal, certamente, porque somos "amor", dádiva, perdão e entrega.

      Beijinho, garotinho (se porte bem! Não seja como o Menino Jesus de meu poema - rsrs).

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    3. A amizade é atemporal, transcende à geografia; não mora no tempo que passa, habita o tempo que fica. O hoje, o agora é o verdadeiro tempo, palco dos acontecimentos. O passado já se foi, o futuro guarda um grande talvez...

      Até antes do natal! Abraçãozinho e bom fim de semana.

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    4. Dizes bem, muito bem, meu amigo! Olha que não ligo à geografia, aliás, era uma aluna média, pke a lonjura pra mim nunca foi, não é, nem será impedimento pra nada e com a era digital, tudo está à distância de um clique.

      Esqueci de te agradecer uma "coisinha" (hoje, estou com falta de imaginação, de vocábulos) e que é o facto de teres colocado meu poema no Google +, "coisa" k não tenho, por opção. MUITO OBRIGADA!

      E o agora é agora e é nosso!

      Ah, claro, até antes do natal. Só pode. Né?

      Abracinho do meu pouco mais de metro e meio (ai, teu 1,76m) e bom domingo.

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    5. A informática subverteu a geometria, a menor distância entre dois pontos, já foi uma reta. Agora é um clique. Não há do que agradecer.

      Abraçãozinho e uma boa semana.

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  2. Ao pensar que o Cronos é o tempo da gente, sou eu agindo, eu fazendo, devo confessar que o meu Cronos está totalmente preenchido com múltiplas atividades, rs. Ao mesmo tempo que estou na azáfama das comemorações de Natal, de um lado pra outro, na expectativa de levar um pouco mais de alegria para muitos corações que são os meus ‘afetos’, fico também a refletir que estou sendo um pouco (um tiquinho só) egoísta, pois é a minha alma que está se beneficiando com esta correria toda. Ao mesmo tempo em que estou exercendo uma atividade referente aos preparativos próprios desta época natalina, sou chamada para fazer um parto, às vezes já programado, outras não. Como ontem à noite. Já de pijama dentro de casa, curtindo um friozinho gostoso e tomando um delicioso chocolate quente, quando me ligam da clínica para atender uma mãe que chegou em trabalho de parto. E lá fui eu, coração na mão (como sempre acontece nestas ocasiões), entre feliz e encantada e também apreensiva.
    Aí meu amigo, acredito que me vem o Kairós agindo com toda a sua autoridade... E/ou com todo o seu amor a fecundar-me a alma.
    Misturam-se aí os dois? Cronos e Kairós? Meu eu agindo, um Eu maior se manifestando? Porque é tão mais intenso o momento vivido quando vejo chegar ao mundo um serzinho tão diminuto, somente esperado para o princípio de Janeiro, e que resolveu (ele, a natureza... ou Deus, o infinito?) vir para os braços da mãe (solteira, renegada pelos pais, sozinha no mundo) como se fosse um presente (ou uma responsabilidade?) a ela conferido por Deus. Um presente de Natal? Um pequeno menino que mesmo não se chamando Jesus, a mim parece destinado a grandes feitos... Unir a família?
    Olha aí, meu amigo, as reflexões e as indagações (e foram tantas hoje, rs) que me chegam como consequência de uma noite mal dormida, aqui ainda na clínica esperando por um café forte do qual já sinto o cheirinho no ar, para enfim restabelecer a ordem do meu Cronos que se tumultuou ante os imprevistos noturnos.
    Ficou confuso o comentário? Pra mim também, rs.
    Vou tentar esclarecer tudo com o nosso Rubem Alves:
    “O tempo pode ser medido com as batidas de um relógio ou pode ser medido com as batidas do coração”
    Mas o que importa é que estou em paz, eu diria até que um pouco feliz... Deus está sempre brincando comigo quando me rouba o Cronos e coloca o seu Kairós no lugar... Ah, chega de tanta bobagem!
    Um dia lindo pra ti, meu querido, porque acredito que o meu vai ser... Se Ele quiser!
    Um beijo no coração!

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    1. O tempo não espera, como se diz: "Chega chegando" e já é! Assim vivemos, sobrevivemos entre o Cronos e o Kairós de cada dia. Deus sempre quer, espera e propicia o nosso melhor.

      Um abração e bom fim de semana.

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  3. Oi Antonio,
    Obrigado por compartilhar seu pensamento, suas ideias, sua poesia!
    Que Deus te ilumine! Que o Natal seja de alegria, paz e fraternidade!
    Feliz Natal para você e sua família.
    Beijo carinhoso.

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  4. Olá, Apon, que texto interessante! Como é difícil par ao ser humano conciliar a ideia de que a vida acontece no agora... lamentamos o passado que não podemos modificar, planejamos o futuro sendo na verdade um conceito etéreo pois jamais teremos a garantia de que as coisas sairão como planejamos... se apropriar do fazer agora, por que temos tanta dificuldade? Medo? Comodismo? Falta de incentivo?
    Espero que consigamos superar esse desafio no ano que estará iniciando!
    Aproveito para desejar um lindo Natal, com paz, amor, alegria e muita luz! Abraços!

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    1. Idem! Que o ano novo traga um renovado e renovador pensar, sentir e agir.

      Um abração.

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  5. Olá, António
    Gostei de o ver na minha "CASA".
    Há muito tempo que não passava por lá... Já tinha saudades...
    Gostei deste texto, muito interessante e reflexivo.

    Festas Natalícias muito felizes, com Alegria, Paz e Amor.

    Votos de uma semana muito feliz.
    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS


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    1. Verdade, já a tempos não trocamos visitas. Que o novo ano traga mais interações e tudo de bom. Felicidades mil!

      Um abração.

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