Corruptela, abreviação vocabular, combinação, contração e outras falas


In the Salon at Rue des Moulins (bordel na rua dos moinhos), pintura de Henri de Toulouse-Lautrec. A imagem mostra uma pintura intitulada

Como naquela brincadeira do “telefone sem fio”, quando uma mensagem passada de ouvido em ouvido, chega quase sempre truncada, modificada... Assim acontece no fenômeno linguístico conhecido como corruptela, no qual, uma informação mal entendida é passada adiante de forma distorcida. Além disso, o uso constante de palavras e expressões, produz uma espécie de desgaste dessas. Isso, junto com a preguiça... Ixe!!! Que vem da interjeição de susto: "Virgem Maria!", que foi reduzida para "virgem", diminuida para "vige" e comprimida num "vixe"! E o "vossa mercê" que foi encolhendo? Virou "vosmecê", "vossuncê", "você" e o internetês "vc".


“Cor de burro quando foge”? não seria “Corra do burro quando ele foge”? Já imaginou o risco de um burro desembestado e furioso? Mas, e o tal do “cuspido e escarrado”, para dizer que uma pessoa é muito parecida com outra? Não seria mais sensato e elegante, “esculpido em Carrara”, ou seja, entalhado no nobre mármore daquela região italiana? Ou ainda, “esculpido e encarnado”, conforme o filólogo Antenor Nascentes pinçando tal tese do gramático português Duarte Nunes de Leão? Assim vão surgindo as corruptelas. Por exemplo, diante de uma pessoa irrequieta, alguém pode ter dito: "parece que tem bicho no corpo inteiro", de boca em boca, de ouvido em ouvido, no “telefone sem fio” da tradição oral , transmutou-se em "tem bicho carpinteiro" e por aí vai: “Quem tem boca vai a Roma”ou “Quem tem boca vaia Roma”? “Batatinha quando nasce, esparrama pelo chão” ou “Batatinha quando nasce, espalha a rama pelo chão”? "Quem não tem cão, caça com gato" ou "Quem não tem cão, caça como gato"? Naquela antiga parlenda, “pé de cachimbo” ou “hoje é domingo pede cachimbo”? ...


Já abreviação vocabular cada vez mais em voga, caiu no gosto dos usos e abusos linguísticos, assim, fica mais fácil, ir ao otorrino do que ao otorrinolaringologista. Português vira portuga, professor é fessor, neurose dá em neura, botequim é o boteco, Japonês é japa, comunista o comuna, delegado fica delega; as meninas são as minas, viajar para São Paulo é ir à Sampa, Floripa é Florianópolis. Ex-marido, ex-namorado, ex-mulher, ex qualquer coisa, agora é apenas, ex. Vice-presidente, vice-governador, vice-prefeito... Tão somente, vice! Contudo, é bom ter cuidado, para não se empregar de forma ofensiva as tais abreviações. Atenção ainda maior com aquelas que disfarçam palavrões e outras coisitas impublicáveis: “carai”, “putz”, “poxa”, “se fu”... E, lembre-se, parafraseando William,o famoso dramaturgo inglês: existem mais normas entre a fala e a escrita, do que sonha nossa vã irreverência idiomática.


Ainda faltam combinações e contrações, que não são as do parto. Preposições como a, de, em e per, junto com algumas palavras formam um único vocábulo, podendo ser unidas por combinação, onde a preposição não sofre alteração ou por contração, havendo sua modificação:


Aquela outra – aqueloutra, aquele outro – aqueloutro, de a – da, de acolá – dacolá, de agora / dagora, de aí – daí, de além – dalém, de alguém – dalguém, de algum – dalgum, de algures – dalgures, de alhures – dalhures, de ali – dali, de antes – dantes, de aquela – daquela, de aquém – daquém, de aqui – daqui, de aquilo – daquilo, de ela – dela, de entre – dentre, de esse – desse, de isso – disso, de o – do, de onde – donde, de outra – doutra, em a – na, em alguém – nalguém, em algum – nalgum, em aquela – naquela, em aquilo – naquilo, em essa – nessa, em isso – nisso, em o / no, em outra – noutra, em um – num, não é – né, para a – pra, para o – pro... ... Ufa! Tá combinado. Preciso descontrair!


Voltando ao internetês do vc, sobram abreviações e outras invencionices: dsclp - desculpas,  amg – amiga/amigo, blz - beleza, ctz – certeza, N – não, vdd – verdade, plmns - pelo menos, rd - rodado/rodada, vdb - vai dar bom, smdd - sem maldade, tqr - tem que respeitar, pprt - papo reto, bpn - bom pra nós, tlg - ta ligado? Dmr - demorou,
tmj - tamos juntos, pdc - pode crer, sqn - só que não, smp - sempre, agr - agora, tds – todos/todas, cvs - conversa, ngm - ninguém, sdds - saudades, dlç - delícia, obg - obrigado, glr - galera, msm - mesmo, td - tudo, tdb - tudo bem, tb - também, sfd - safado/safada, slc - sê é loco/você é louco, qq6 acham - o que que vocês acham? Vlw – valeu! Brinks - estou brincando, fikdik - fica a dica... Ainda tem os neologismos, estrangeirismos, modismos e tantos “ismos” que dariam uma prosa sem fim.


Inté! Ou seja, até! ...


Postado aqui em 01 de março de 2019.

18 Comentários

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  1. Uma publicação bastante interessante:))

    Hoje:- Se, os nossos lábios sentissem

    Bjos
    Votos de uma óptima Sexta - Feira.

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  2. Bela postagem! Não gosto nada de palavras em abreviações! :)


    Rendo-me ao dia que faz lá fora ...
    Beijos e bom fim de semana.

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  3. Um texto excelente em informações e aprendizagens sobre nossa língua!
    Beijos e feliz carnaval!

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  4. Olá, Tonico!

    Que textão interessante! Já o li e reli, pke diz respeito à minha área profissional e também porque desconhecia algumas considerações, como por exemplo, o que era uma corruptela. Não sei se cá tem a mesma designação ou não. Tenho de pesquisar sobre o assunto.

    Abreviações orais, nós usamos poucas em relação a vocês. Na escrita qualificada, ninguém usa abreviações (abreviaturas), embora um ou outro escritor moderno as use e não coloque pontuação em 2 parágrafos seguidos (estou exagerando-rs) ou a seguir ao ponto final use letra minúscula. Enfim, subverter as regras gramaticais lhes deve dar um gozo tremendo.

    Qto aos provérbios, que tu aqui apresentaste, como por exemplo: "cor de burro quando foge", já li algures outras explicações, que não me convenceram de todo. Gosto bastante de saber o porquê deles.

    A Língua, seja ela qual for, sofre modificações ao longo do tempo. Se perdem algumas palavras e se ganham outras. É o chamado dinamismo linguístico.

    Beijos e bom carnaval, caso aprecies!

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    1. No Brasil, não só as gramaticais,mas, todas as regras parecem que foram feitas para serem subvertidas e o "dinamismo linguístico", extrapola a dimensão do exagero. Menos por modernismos, mais por ignorância e pouco caso com a norma culta, assim, o que nem devia ser falado, passa à escrita sem qualquer cerimônia. Difícil o consenso sobre alguns provérbios, controvérsias novas surgem a cada instante. Procurei aqui pontuar com pitadas de humor esses fenômenos da nossa língua, que sendo a mesma, consegue se apresentar de formas tão diversas.

      https://www.youtube.com/watch?v=blEdV1cOsBg

      Bem assim...

      Inté!

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    2. Olá, meu bem!

      Vocês, brasuqinhas -rs, subvertem tudo e todos e nem a linguagem escapa. Que fazer? São soltos demais, mesmo.
      Eu entendi. Escreveu o textão pondo nele algum humor para amenizar a verdade. Não se diz roubar, se diz, desviar -rs.

      Qto aos ditados populares, já conhecia muitos, mas um ou outro não. Gosto de rever provérbios.

      Beijos e um big abraço.

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    3. Brasileiro gosta mesmo é de festa, folia, furdunço, fuzuê, subverter a seriedade. Por isso, tudo termina em carnaval, samba ou trio elétrico.

      https://www.youtube.com/watch?v=zKtCcq5pcPg

      Um abração.

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    4. IMPRESSIONANTE!

      Tanta gente nas ruas, tanta gente cantando, dançando e trios para exaltar mais ainda. A culpa de todas essas manifestações exageradas é a vinda forçada, bem sei, de africanos para o Brasil. Passam a vida sem fazer nenhum, sem trabalhar, só querem fazer filho, curtir futebol e dançar.
      Evidente k haverá exceções, mas a maioria do povo é, desse jeito. Isso está no genes mesmo.

      Beijos e que passe rápido o carnaval. Essa noite vai ser de arromba, segundo ouvi na TV, toda a noite dançando e desfilando por aí. E quem quer sossegar, dormir?

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    5. Não vamos ser preconceituosos. A culpa é da falta de educação digna, de formação ética e estética, da política do "pão e circo" que aliena a população para que aceite qualquer porcaria como algo de valor. Falta tudo. Mas, sobra festa. Então fica tudo bem. Assim descaminha o Brasil.

      Inté!

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  5. Ah, estava esquecendo a pintura. Gostei de ver as senhoras no salão dos moinhos, em Paris, suponho.

    Tudo de bom!

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    1. Sim, as minas são de Paris. Um toque francês num texto sobre português. E vamos aos ditados:

      https://www.youtube.com/watch?v=8Yy5AzFWAP8

      Um abraço não carnavalesco. Bom fim de semana.

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  6. Exatamente. Tudo indicava que as minas (de ouro-rs)eram francesas, de paris, mais propriamente.

    Fui ler no Google a letra desse vídeo, pois não estava conseguindo entender tudo o que o cantor dizia. A letra está muito bem feita e os ditados se encaixam lindamente, há sequência, quero afirmar.

    Em relação às imagens do vídeo, algumas são deprimentes. Tanta pobreza! Enfim, nunca mais se dão condições culturais e não só a essa gente.

    Beijos, Tonico!

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    1. Resolver a pobreza? Cultura? Dignidade? Um país decente? Pra que, menina? O povo quer e gosta é disso:

      https://www.youtube.com/watch?v=flGoiyMUMOc

      Bem assim...

      Inté!

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  7. Isso aconteceu na tua cidade no ano passado. Tanto barulho, gente, confusão! E as pessoas dançam umas com as outras sem se conhecerem, assim, na rua? Tudo ao molho e fé nos deuses?

    Escutei, integralmente, os dois mais recentes vídeos daqui, hoje à tardinha, são longos e fiquei boquiaberta.

    Quando mudará para melhor essa forma "cultural" desse povo? Eu creio, que eles querem assim, pke não entendem a desclassificação, que isso é.

    Os brasileiros residentes em Portugal não procedem, desse jeito, até pke aqui não há esse tipo de festa, essa aglomeração, essa maluqueira. Algumas crianças se fantasiam, há pequenas cidades k fazem seu carnaval, sobretudo de sátira social e política. Qdo aparece mulher quase pelada, nós sabemos, de imediato, k ela é brasileira cá residente e a quem a organização do carnaval pagou bem pra ela sambar e mostrar o bumbum e os seios.

    Esperemos que teus netos já tenham um carnaval diferente.

    Beijos, Tonico!

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    1. Tem coisa muito pior, verdadeiras aberrações. Mas, alcunham essas teratologias de cultura, de manifestação popular... Musiquetas do mais baixo calão, subterrâneas mesmo! Coreografias libidinosas, lascivas... Não que o carnaval seja só isso, mas, é o que impera, sobretudo depois do famigerado "pagode", decadência total. Triste.

      Um abraço. Inté!

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