Malba Tahan. A construção de um fake news, uma verdade alternativa. Para o bem ou para o mal


#PraCegoVer: Retrato do artista em pose debochada, pintura de Ducreux.

“Malba Tahan (crente de Allah e de seu santo profeta Maomé) é um “famoso escritor árabe”, que nasceu na Península Arábica, em uma aldeia conhecida como Muzalit, próxima do centro islâmico dos muçulmanos, a cidade de Meca, em 6 de maio de 1885.
Ainda muito jovem, ele foi convidado pelo emir Abd el-Azziz ben Ibrahim a ocupar o posto de queimaçã, ou seja, prefeito, de El-Medina, município da Arábia. Exerceu seu cargo, ou melhor, suas funções administrativas com inteligência e habilidade. Conseguiu também poupar incidentes entre peregrinos e autoridades locais e buscou dar amparo aos estrangeiros que visitavam os lugares sagrados do Islã.
Malba Seguiu seus estudos por Cairo (Egito) e Istambul (Turquia) até receber uma vultosa herança de seu pai e resolver viajar pelo mundo, passando pela China, Japão, Rússia e Índia, onde teria observado e aprendido os costumes e lendas desses povos. Teria estado, por um tempo, vivendo no Brasil. Morreu em batalha em 1921 na Arábia Central, lutando pela liberdade de uma minoria da região da Arábia Central”.

Gostou da biografia? Bacana, não é mesmo? Bom para Ver como é fácil inventar um personagem, engendrar um mito. Eu gostei muito do conto “A primeira rúpia” de Malba Tahan, e fui pesquisar sobre o autor. Sabia que Malba Tahan “não existe”, ao menos como pessoa física? Que é um personagem criado por um escritor? Lembrei dos personagens da política, que muitos acreditam piamente e defendem com fervor devocional, mas, que não passam de personagens forjados, maquinações míticas, simulacros ideológicos.

Por não acreditar no sucesso de um escritor brasileiro a escrever contos árabes, Júlio César de Mello e Sousa, concebeu uma espécie de alter ego, “o famoso escritor árabe, Malba Tahan”. E para emprestar maior credibilidade ao personagem, idealizou um tradutor , o Professor Breno Alencar Bianco. Conforme a Wikipédia: “Malba Tahan significa “O Moleiro de Malba”, sendo Malba a denominação de um povoado ao sul da Arábia, e “Tahan” significa moleiro, aquele que prepara o trigo. A palavra Tahan foi tirada do sobrenome de uma de suas alunas (Maria Zachsuk Tahan)”.

Entrevistado por Silveira Peixoto e  Monteiro Lobato, Júlio Cesar relata o “nascimento” de Malba Tahan:

“O caminho, então, seria tratar de escrever com um pseudônimo estrangeiro. Pensei mais sobre o caso. Qual o pseudônimo a adotar?
Deveria ser um que tivesse todo cunho de realidade. Americano? Mas não. Queria um pseudônimo que se conformasse bem com o caráter dos trabalhos que pretendia escrever... Seria um árabe. - Por quê? - O árabe é homem que faz poesia a propósito de tudo. Suas atitudes sempre são romanescas. Não compreende a vida sem a poesia. Mas o pseudônimo não deveria ser nem masculino e nem feminino. Teria de ser sonoro. Teria de dar a necessária impressão de perfeita autenticidade. Na Escola Normal, havia uma aluna com um sobrenome interessante: "Maria Tahan". Simpatizei-me com esse "Tahan". Perguntei-lhe que queria dizer. "Moleiro" - respondeu-me ela. Fui, dias depois, descobrir num mapa da Arábia, o nome de uma cidade - Malba, aldeia perdida na Arábia Pétrea ... - E nasceu Malba Tahan ... - Que, como vê, pode ser traduzido por "moleiro de Malba". Comecei, então, a estudar a civilização árabe. Li Gustavo Le Bon, comprei o Alcorão, numa edição comentada, percorri as obras de Massoudi. Tomei um professor de árabe: o dr. Jean Achar. Tempos depois, quando já havia me enfronhado nas coisas do Oriente, procurei Irineu Marinho, a esse tempo um dos diretores de A Noite. Apresentei-lhe uns trabalhos de Malba Tahan. Disse-lhe que se tratava de um escritor árabe; acentuei que eu apenas havia traduzido alguns de seus trabalhos.”

Assim ganhou notoriedade e prestígio o fictício Malba Tahan, publicando seus contos comentados pelo não menos ficcional Prof. Breno de Alencar Bianco. A fama ganhou tamanha dimensão que, com permissão do então Presidente Getúlio Vargas, o nome do personagem passou a figurar na carteira de identidade do seu criador.

Aqui, o que até podemos chamar de fake news do bem, verdade alternativa que não implica em maiores consequências. Mas, cuidado com os personagens que você escolhe para defender, o mito que elege para chamar de seu.

Antonio Pereira Apon.

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Antonio Pereira Apon

Autor do poema: A pedra. O distraído nela tropeçou... Procurando escrever em prosa e verso com a arte da vida.

4 Comentários

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  1. Um texto muito interessante, Tonico.

    É preciso ter cuidado mesmo com o real e com aquilo, que inventamos. Se for "coisa" boa, que prossiga, caso não, que se ponha um fim logo.

    Beijos e boa semana.

    PS: gostei da imagem, claro. Já conheço essa pose debochada, a de muitos, infelizmente.

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    Respostas
    1. Na política o que não falta são invencionices e farsas, que muito diferente do interessante caso aqui postado, induzem ao erro e o desengano. O Brasil que o diga! é "o sujo falando do mal lavado e o roto do esfarrapado". Todos uma só mentira.

      Um abraço sem máscaras.

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  2. Respostas
    1. Cuidado que tem faltado e as pessoas ficam defendendo o indefensável.

      Te convido para ler: 😎 Modo escuro ou claro? Nas telinhas e na vida.
      Um abraço. Tudo de bom.

      Excluir
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Clique para ler: A pedra.            Poema de Antonio Pereira Apon.




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