O harém


Martelo da justiça. #PraCegoVer

Extremista, misógino, machista, preconceituoso, homofóbico, amoral… Eram apenas alguns dos predicados que desqualificavam aquele sujeito arrogante e intratável. Naquela noite, após usar e muito abusar dos serviços de uma profissional do sexo. Sem que nem pra que, ele danou a humilhar e ofender a moça e as mulheres em geral:

- Vocês são coisas, são como camisinhas, descartáveis! Uso e jogo fora, mercadorias, objetos do meu bel prazer; brinquedinhos que meu dinheiro pode comprar aos pacotes, pencas… Mulher é tudo quenga, principalmente as nigrinhas! ...

Em meio a um sorriso sinistramente sarcástico, a figura de mulher tornou-se um vulto diáfano, seu rosto transmutava em múltiplas faces femininas, mascaradas de dor e ódio. Aterrorizado, de olhar desmensurado, o desgraçado sentiu a mão translúcida daquela presença, atravessar-lhe o peito e esmagar-lhe o coração. Enquanto um enfarto fulminante lhe roubava as forças, ele ainda vislumbrou uma segunda aparição, igualmente incorpórea; era um homem acorrentado, seguro pela mulher. Antes de expirar, o infeliz escutou dela:

- Eu sou a morte! A mesma morte que você e esse miserável impuseram a mim e tantas outras mulheres, agora são vocês os escravos em nosso “harém”!

Como num filme, o moribundo assistiu toda sua vida passar numa retrospectiva, que transpondo a fase intrauterina; numa insólita regressão de memória, revelou-lhe uma vida passada:

Ele se reconheceu no Coronel Teodoro e aquela visagem de homem, no seu capataz Tibúrcio. Hipócrita e cruel, aquele senhor de escravos, mantinha junto à sua rica fazenda, uma misteriosa fazendola, para onde eram enviadas suas escravas mais jovens e belas, meninas mesmo eram para lá remetidas, para nunca mais serem vistas. Ali, só o dito cujo e seu “pau mandado” tinham acesso. Naquele obscuro cenário, as moças eram sexualmente seviciadas de maneiras inimagináveis, primeiro por Teodoro e depois, entregues ao assecla. Seguia a violenta depravação até a morte das vítimas…

Mas, a perversidade, a perversão e todo mal feito não prescrevem. A consciência denuncia, o tempo condena, o destino executa. A vida carrega uma insuspeita legislação, sob o martelo do tribunal de causa e efeito, ação e reação; a justiça, mais cedo ou mais tarde se processa.

Assim, o delinquente de hoje, viu e ouviu o criminoso de ontem ir para os fundos da sórdida propriedade e sob uma placa onde se lia a palavra: Harém; diversas cruzes fincadas no chão e o irônico falar:

- É pra isso que servem essas nigrinhas: nos satisfazer e adubar a terra. Mais nada! ...

As gargalhadas sombrias daquele momento distante se misturavam com as lágrimas convulsas da hora. Ao derradeiro suspiro, o espírito recalcitrante foi arrebatado pela nuvem vingativa de suas almas cobradoras, sendo levado junto com seu comparsa de tantas atrocidades, para as zonas inferiores dos mais agudos sofrimentos.

Antonio Pereira Apon.

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Antonio Pereira Apon

Autor do poema: A pedra. O distraído nela tropeçou... Procurando escrever em prosa e verso com a arte da vida.

3 Comentários

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  1. Um conto que me indispôs. Só utiliza a prostituição quem quer. As negras são iguais às brancas.
    Sujeito sujo e sem noção.
    Abraços.

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