Não se acostume com o problema. Queime a pinguela


Paisagem Rústica com Ponte e Casas, pintura de Almeida Júnior.

Um problema pede uma solução. Mas, vamos adiando, prorrogando, protelando, “empurrando com a barriga”… Bem assim:


Uma velha pinguela, era a única ligação daquele bucólico vilarejo com a sede do município e o resto do mundo. Cerca de 15 metros de cordas carcomidas, madeiras gastas, quebradas e apodrecidas, debruçadas sobre o rio, esse o único e mais que precário caminho para os moradores e visitantes dali. Décadas de remendos e improvisos, mantinham aquele arremedo de ponte, que de a muito já devia ter sido substituída. Mas, nada. A bichinha, mais parecia uma dessas celebridades sem noção, que após trocentas cirurgias plásticas, vira um sujeito indefinido, amorfo, mistura de nada com coisa nenhuma. O pontilhão sambava mais que dançarina de grupo de pagode, mas, todos estavam acostumados: os meninos que escorregavam, as idosas que caíam, os idosos que tropeçavam, um que prendia o pé, o que se machucava nas lascas de madeiras; o pinguço que não sabia, se era vertigem por conta da “marvada” ou o requebro da pinguelinha… Todos acostumadíssimos, iam dando um jeitinho e o “problema de estimação” seguia mal remediado, prejudicando a todos.


Até que um dia, um morador aborrecido com aquele absurdo e toda aquela acomodação, tomou uma atitude extrema. A noite, quando todos dormiam, ele espalhou gasolina e tocou fogo na velha pinguela.


Uma semana depois, uma bela, segura e nova ponte surgia. Enfim, a solução por tanto tempo negligenciada.


Como os moradores daquele vilarejo e sua pontezinha, vamos nós, maquiando os problemas, emendando, improvisando, inventando, tardando, arriscando, sofrendo e nada ou pouco fazendo para resolver. Esperamos um milagre? Um favorzinho da sorte? Uma benção divina? Será que “faz parte”? ... Assim, vamos nos acostumando, nos aclimatando, achando tudo e qualquer coisa, normal, aceitável, comum, natural, relativo… Gente! Deixa disso! Vamos desacostumar, desacomodar, queimar a pinguela!


Antonio Pereira Apon.

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Antonio Pereira Apon

Autor do poema: A pedra. O distraído nela tropeçou... Procurando escrever em prosa e verso com a arte da vida.

8 Comentários

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  1. Mais uma postagem maravilhosa!!

    Beijos e um excelente dia.

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  2. Olá, Tonico!

    Gostei bastante da tua prosa, mas nem tudo é assim tão linear e tu bem sabes disso.

    Aconselhamos as pessoas a fazer isso e aquilo, mas não conseguimos resolver nossos problemas com a rapidez, que queremos. Raramente, alguém, queima a pinguela, assim, de repente, e logo depois surge outra pinguela toda novinha.

    Eu tenho sempre mto cuidado com situações, k tenham a ver com afetos. É preciso saber preparar o terreno para a nova "cultura".

    Gostei da pintura, mto. Me agradam paisagens bucólicas.

    Abracinhos e uma noite feliz e fresquinha.

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    Respostas
    1. Certamente, não existe uma receita pronta para tudo, geral e infalível; uma panaceia salvadora. Existem problemas e problemas. Falo dos que já podemos resolver, mas, vamos deixando para depois, acumulando, piorando... Claro, que cada problema e sua solução, reclama seus cuidados, sobretudo no terreno dos sentires.

      Um abraço sem problemática, cheio de "solucionática".

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    2. evidente k não, pke cada caso é um caso, eu entendo. Sei k há pessoas, que deixam arrastar coisas simples como uma ida o dentista - rs, por exemplo, pois tem pavor dessa especialidade.

      Em relação aos afetos, é preciso ter cuidado e usar de uma certa subtileza.

      Nosso abraço é bem descomplexado e livre.

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    3. Isso mesmo, cada coisa é uma coisa e cuidado é sempre oportuno. Como disse o "Pequeno Príncipe": "Somos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos".

      Pavor de dentista? Essa pessoa está ainda no medievo! Rs rs rs...

      Um abraço transatlântico.

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  3. Esquecei de comentar o bolero, que me deliciou. É agradável ao ouvido, mas me parece impulsionador.

    Boa escolha!

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