Passado, presente e futuro

... O passado, já foi! O futuro, pode vir a ser! Só o presente, já é! Bem ou mal, alegre ou triste, mais fácil ou mais difícil… Tudo só pode ser vivido, transformado, modificado, escrito, reescrito é nesse presente, dádiva de...

Antonio Pereira Apon.

Dois meses de isolamento social e Romeu, sem sua Julieta, já estava avexado, reclamando de Deus, tudo e todo mundo. Apoquentado da vida, azuretado, já “virado no estopô”; praguejava, mal dizia, blasfemava… Num surto saudosista, pensava no quanto tudo era melhor no passado; naquele tempo isso, naquele tempo aquilo… Foi quando surgiu em sua frente um menino, montado numa espécie de prancha flutuante com jeitão modernoso, futurista:

- Quem é você moleque? - Perguntou Romeu.

- Eu sou o tempo, tio! - Respondeu o garoto.

- O tempo?! Mas, o tempo não é um velhinho de barba longa com uma ampulheta na mão?

- Esquece! Isso é coisa que colocaram na cabeça de vocês. Esse visual démodé e tão deprê, já era! Fiz programação neurolinguística, dei uma repaginada e agora, esse é o meu look lacrador. Afinal de contas, como já cantou o Mano Caetano: “O tempo não pára no entanto ele nunca envelhece”. Captou brother?!

- Captei. Mas, o que você está fazendo aqui?

- Eu estou sempre aqui. Contudo, porém, todavia. Como tu tá aí na pilha com o presente, todo desgostoso da vida, entre seus delírios pretéritos, resolvi me explicitar para atender seu desejo e te mandar para algum lugar do passado…

Assim, O nosso amigo se viu de volta ao passado. Após os primeiros instantes que lhe saciaram a nostalgia, ele passou a estranhar tudo: os cortes de cabelo, as roupas, aparelhos, automóveis… Tudo tão antiquado, naquele mundo retrô, não podia interagir com nada nem ninguém, se sentia imerso num filme antigo; pronto, acabado, onde nada mais podia ser mudado, modificado, editado. Só assistir e pronto! Desiludido e ainda mais aborrecido, pediu ao tempo para visitar o futuro, achava que lá se encontraria.

No futuro, uma sensação de incompletude o dominou. Tudo era novo, moderno, avançado. Mas, nada estava pronto, tudo estava incompleto, por fazer: cabelos indefinidos, roupas mal alinhavadas, aparelhos, automóveis que não funcionavam… Se sentiu dentro de um jogo de videogame sem um só life para viver; uma névoa de esquisitice pairava no ar... Desenganado, retornou ao presente ouvindo o tempo dizer:

- O passado, já foi! O futuro, pode vir a ser! Só o presente, já é! Bem ou mal, alegre ou triste, mais fácil ou mais difícil… Tudo só pode ser vivido, transformado, modificado, escrito, reescrito é nesse presente, dádiva de todas as oportunidades e possibilidades que a vida pulsa e pode fazer acontecer. Se lamuriar, praguejar, entregar-se à revolta e ou ao desespero; é desaproveitar a preciosa chance de fazer a diferença...

Romeu acordou do seu cochilo em frente á TV, ouvindo: “Já fui banda mel!”

Postado aqui em 20 de maio de 2020.